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Auxílio-doença por ludopatia cresce, mas percentual de afetados ainda é baixo

O INSS registrou um aumento significativo nos pedidos de auxílio-doença relacionados à ludopatia — vício em apostas — entre junho de 2023 e abril de 2025. Foram 276 benefícios concedidos nesse período, um crescimento de 2.300% em comparação à média anual de 11 casos registrados entre 2015 e 2022, segundo informações divulgadas pelo Intercept Brasil e pelo Correio Braziliense.

Apesar do aumento percentual, especialistas alertam que os números absolutos permanecem relativamente baixos e não configuram uma “epidemia”, como alguns veículos têm sugerido.

São Paulo lidera o ranking com 95 concessões, seguido por Minas Gerais (39), Bahia (18), Rio Grande do Sul (17), Rio de Janeiro (16) e Santa Catarina (16). A maioria dos beneficiários (73%) são homens entre 18 e 39 anos, todos formalmente empregados no momento do afastamento. Apenas 7% declararam possuir dependentes, embora os dados sobre a situação familiar sejam incompletos.

O Sistema Único de Saúde também registrou aumento nos atendimentos relacionados à ludopatia, passando de 65 em 2019 para 1.292 em 2024. Entretanto, ao contextualizar os números, percebe-se que o percentual de jogadores que buscou atendimento no SUS é extremamente baixo: cerca de 0,0073% dos 17,7 milhões de apostadores ativos no Brasil.

O aumento nos casos coincide com a consolidação das plataformas de apostas no país e o crescimento de publicidade voltada ao setor, incluindo patrocínios esportivos. Entre os casos documentados, há relatos de trabalhadores que perderam economias, desviaram recursos de empresas ou desenvolveram problemas graves de saúde mental.

Profissionais da saúde reforçam que a ludopatia deve ser tratada como uma condição médica, com tratamento adequado, e não apenas como motivo para desligamento do emprego.

A literatura global indica que a prevalência de transtorno do jogo varia entre 1% e 3%. No Reino Unido, considerado um mercado maduro, a Gambling Commission estima que 2,5% dos jogadores apresentam comportamento problemático, enquanto outros 3,7% estão em risco moderado. Vale ressaltar que essas estatísticas consideram toda a população adulta, incluindo quem não aposta, o que pode distorcer a percepção do problema.

Embora seja essencial monitorar e tratar casos de ludopatia, os dados mostram que o impacto do vício em apostas no Brasil, até o momento, é restrito a uma pequena parcela dos jogadores. O aumento recente de solicitações de auxílio-doença reflete maior conscientização e busca por tratamento, e não necessariamente uma “tragédia social” generalizada.

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