Pressionado pelo Planalto, presidente da Caixa terá de justificar criação de plataforma de apostas ao presidente Lula
Após questionamentos do Palácio do Planalto, o presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, deverá apresentar a Lula, na próxima semana, os fundamentos do projeto que propõe a criação de uma plataforma própria de apostas on-line, conhecida internamente como “bet da Caixa”. A proposta gerou desconforto no governo e críticas da oposição.
A iniciativa da Caixa de lançar sua própria plataforma de apostas digitais entrou no radar do Palácio do Planalto. Segundo apuração do Globo Online, o presidente do banco público, Carlos Vieira, foi convocado a explicar os detalhes e justificativas do projeto diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim que ele retornar de viagem à Ásia.
Nos bastidores, a Caixa argumenta que grande parte das apostas feitas no Brasil ocorrem em sites estrangeiros não autorizados e que, portanto, não recolhem impostos no país. A proposta da nova plataforma seria justamente atrair esse público, oferecendo um ambiente regulado, seguro e capaz de gerar arrecadação. Fontes ligadas à presidência do banco afirmam que o objetivo é combinar transparência e regras claras, contribuindo também para a proteção do consumidor.
De acordo com estimativas da instituição, o projeto poderia gerar uma arrecadação de R$ 2,5 bilhões em 2026 — o primeiro ano previsto de operação. A Caixa também aponta que a expansão das “bets” provocou uma queda de cerca de 50% na arrecadação das loterias tradicionais, o que reduziu as receitas do próprio governo, já que quase metade dos ganhos brutos das loterias (48%) são destinados aos cofres públicos.
O lançamento da “bet da Caixa” estava inicialmente planejado para o primeiro semestre de 2024, mas foi adiado à espera de novas diretrizes do Ministério da Fazenda. A pasta já havia aprovado o projeto em termos técnicos e formais, sem avaliar o mérito político. O banco, por sua vez, espera que as medidas regulatórias ajudem a combater plataformas ilegais e deem mais segurança aos apostadores.
“É um mercado novo, e a Caixa é um entrante. Queremos ser um player importante”, afirmou Vieira anteriormente, ao comentar a entrada do banco no competitivo setor das apostas eletrônicas.
A ideia, no entanto, gerou forte reação política. Parlamentares da oposição criticaram o projeto, e durante a viagem à Ásia, Lula manifestou irritação com a repercussão negativa do plano. O presidente da Caixa evitou comentários públicos e informou que só se pronunciará após a reunião com o chefe do Executivo.
Enquanto isso, o governo planeja enviar novamente ao Congresso uma proposta de aumento das alíquotas de impostos sobre as casas de apostas e fintechs, reforçando a pauta de regulação e arrecadação.
Com a pressão do Planalto e as críticas da oposição, o futuro da “bet da Caixa” permanece incerto. Entre a promessa de arrecadar bilhões e o risco de desgaste político, o governo Lula se vê diante de um dilema: avançar no mercado das apostas para recuperar receitas ou recuar diante da reação pública. A decisão pode redefinir não apenas a estratégia da Caixa, mas também o papel do Estado no disputado e crescente universo das bets.



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