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Senador endurece contra lobby das bets e adota silêncio estratégico sobre projeto que dobra tributação do setor

Eduardo Braga, relator do projeto que aumenta impostos sobre casas de aposta e altera tributação de fintechs, tem evitado qualquer conversa sobre o tema — até com colegas próximos — para escapar do lobby intenso das bets no Congresso. O texto já saiu da pauta duas vezes por sinais de derrota iminente, e agora o senador tenta reconstruir apoio enquanto defende que o governo primeiro enfrente o mercado ilegal.

O senador Eduardo Braga (MDB-AM) vive dias de extrema cautela em Brasília. Relator do projeto que pretende dobrar a tributação das plataformas de apostas esportivas e promover mudanças no regime fiscal das fintechs, o parlamentar tem adotado uma postura incomum: silêncio absoluto. Nem aliados próximos têm conseguido conversar com ele sobre o tema.

Segundo relatos divulgados por Guilherme Amado, tanto no PlatoBR quanto no Estado de Minas, a estratégia de isolamento tem uma justificativa direta: o fortíssimo lobby das casas de aposta, considerado hoje um dos mais articulados e agressivos do Congresso. Para Braga, qualquer conversa fora do ambiente formal pode se transformar em porta de entrada para pressões indevidas — especialmente sobre senadores que ainda não definiram posição.

O projeto, que é de autoria de Renan Calheiros, não tem encontrado caminho fácil. Inclusive, já saiu da pauta da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) por duas vezes, sempre após sinais de que as bets haviam conquistado votos suficientes para derrubar o texto. Os recuos sucessivos expuseram a força das operadoras e aumentaram o clima de disputa nos bastidores.

Diante disso, Braga endureceu. O senador tem repetido, em declarações públicas, que não faz sentido discutir aumento de carga tributária sem que o governo “feche o mercado ilegal”. A afirmação se tornou uma espécie de blindagem: ao evitar entrar em detalhes sobre mudanças ou ajustes no relatório, ele ganha tempo e reduz a margem para interferências.

Enquanto isso, longe dos holofotes e evitando conversas improvisadas, o relator tenta reconstruir uma maioria sólida dentro da CAE. Sem isso, o projeto não avança. O desafio é grande: as operadoras de apostas consolidaram apoios, mobilizaram interlocutores e têm se mostrado dispostas a travar o debate sempre que sentem risco de derrota.

O clima é de tensão crescente. De um lado, parlamentares que defendem maior tributação argumentam que o setor movimenta bilhões e deve contribuir mais para os cofres públicos. Do outro, as bets tentam impedir um avanço considerado prejudicial ao modelo de negócios. Entre esses polos, Braga tenta viabilizar um relatório que sobreviva à votação.

Com o lobby das bets atuando sem descanso e o projeto patinando na CAE, a pergunta que paira em Brasília é simples — e explosiva: Eduardo Braga conseguirá romper o cerco e levar adiante uma proposta que pode mudar o futuro do setor de apostas no país?
Os próximos movimentos prometem expor quem realmente tem força no Congresso — e quem vai ceder à pressão.

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