Apostas dominam camisas da Série A e superam marcas históricas no futebol brasileiro
Em 2025, empresas de apostas esportivas ocupam o espaço principal de 90% dos uniformes dos clubes da elite nacional, índice inédito no país e muito acima de ciclos anteriores, como os da Coca-Cola e da Caixa. Enquanto isso, ligas europeias caminham para restringir ou banir esse tipo de patrocínio.
O principal patrocínio dos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro em 2025 tem um dono quase absoluto: as bets. Um levantamento divulgado nesta quinta-feira (4) pela consultoria Jambo Sport Business aponta que casas de apostas estampam a área nobre de 90% das camisas dos times da primeira divisão. O número representa a maior concentração setorial já registrada no futebol brasileiro, superando marcas históricas.
O cenário atual contrasta com o de 2014, quando o mesmo estudo indicava ausência total de casas de apostas no patrocínio dos clubes. À época, a prática era proibida no Brasil. A virada começou em 2018, com a legalização das apostas esportivas, mas ganhou força a partir de 2023, quando teve início, de forma mais concreta, o processo de regulamentação. Esse intervalo de crescimento com controles ainda em consolidação permitiu uma rápida ocupação do espaço publicitário pelas plataformas de apostas.
O patamar de 90% ultrapassa os ciclos mais marcantes do passado. Em 1992, a Coca-Cola aparecia em 70% das camisas da Série A. Em 2016, o setor financeiro atingiu 80%, com a Caixa Econômica Federal respondendo sozinha por 60% dos patrocínios principais. Nenhum segmento, no entanto, chegou ao atual nível de predominância das empresas de apostas.
Enquanto o Brasil amplia a dependência desse mercado, ligas internacionais seguem em direção oposta. Na Inglaterra, as casas de apostas ocupam hoje 55% dos espaços principais na Premier League, mas essa presença tem prazo de validade: a partir da temporada 2026/27, entrará em vigor uma proibição total desse tipo de patrocínio frontal. Na Itália, onde o Decreto Dignità baniu a publicidade de apostas desde 2019, a presença direta caiu para apenas 5%. Já na Alemanha, com regras rigorosas, o setor financeiro lidera com 27,8%, seguido por empresas de serviços e telecomunicações.
Nos Estados Unidos, onde estados importantes como Califórnia e Texas proíbem as apostas esportivas, o cenário também é distinto. Na MLS, o setor da saúde lidera os patrocínios, com cerca de 30%, seguido pelo financeiro, com 20%.
O impacto de restrições semelhantes na Europa já foi sentido. Em 2021, o banimento total das apostas em determinados mercados retirou aproximadamente €90 milhões do futebol, atingindo principalmente clubes menores. Esse vácuo foi ocupado por outros segmentos, como o de eletroeletrônicos, que passou a responder por 15% dos patrocínios, impulsionado pela maior demanda por equipamentos como ar-condicionado em meio às altas temperaturas no continente.
De acordo com a Jambo Sport Business, o futebol brasileiro pode enfrentar sérios desafios financeiros caso adote medidas regulatórias mais rígidas ou se ocorrer uma retração natural do mercado de apostas. A análise aponta que ciclos de alta concentração em um único setor tendem a se encerrar, abrindo espaço para novos protagonistas embora, neste momento, não esteja claro quem poderia assumir essa posição.
A recomendação para os clubes é clara: diversificar receitas se tornou uma necessidade estratégica, não apenas uma opção. Caso contrário, uma mudança de regra ou de mercado pode deixar uma lacuna difícil de preencher.
Diante de um domínio tão expressivo, a pergunta que fica é: o futebol brasileiro está construindo uma nova era de sustentabilidade financeira ou apenas trocando um patrocinador por uma nova dependência?



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