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Cassinos, diplomacia e bilhões: como Macau selou a volta da NBA à China

Após uma crise bilionária com Pequim, a NBA retorna à China por meio de Macau graças à influência e ao poder financeiro do magnata dos cassinos Patrick Dumont.

Em 2021, o bilionário Patrick Dumont, executivo do Las Vegas Sands, teve uma ideia ousada: reaproximar a NBA da China, após uma ruptura que havia custado à liga centenas de milhões de dólares e anos de constrangimento diplomático.

A crise começou em 2019, quando um tuíte de apoio aos protestos de Hong Kong, publicado por um dirigente do Houston Rockets, provocou a fúria de Pequim. Em resposta, patrocinadores cancelaram contratos, e a emissora estatal CCTV suspendeu transmissões da NBA no país. O prejuízo foi estimado em mais de US$ 300 milhões.

Dumont enxergou uma oportunidade: usar Macau, território semiautônomo onde o Sands opera diversos cassinos, como ponte de reconciliação. A ideia coincidia com o plano do líder chinês Xi Jinping, que queria diversificar a economia local e reduzir a dependência dos cassinos.

A partir daí, Dumont iniciou anos de articulações silenciosas. O Sands promoveu eventos em apoio à política “um país, dois sistemas” e manteve diálogo direto com autoridades chinesas e de Macau. Enquanto isso, a família Adelson — dona majoritária do Sands e uma das maiores financiadoras políticas dos EUA — investia em novos laços com a China, incluindo a compra do Dallas Mavericks, da NBA.

O esforço culminou em outubro de 2025, com dois jogos de pré-temporada entre Brooklyn Nets e Phoenix Suns na Venetian Arena, propriedade do Sands. O evento marcou o retorno oficial da NBA à China e o início de um acordo de cinco anos para novos jogos no país.

“Acreditamos que as duas maiores economias do mundo devem manter o diálogo. É do interesse de todos”, declarou Ron Reese, porta-voz do Sands.

Para a NBA, a reconciliação representa o fim de uma das maiores crises de sua história. Para Pequim, uma vitória diplomática que reforça sua imagem global por meio do esporte.

O comissário Adam Silver garante que a liga não fez concessões políticas e que continuará a defender a liberdade de expressão de dirigentes e atletas. Mas dentro da NBA, há consciência de que qualquer novo atrito com a China pode ter alto custo.

O retorno da liga foi pavimentado por gestos simbólicos — como doações durante a pandemia e a contratação de Michael Ma, filho de um ex-executivo da CCTV, para comandar a NBA China. A emissora estatal, que havia cortado relações, voltou a transmitir jogos regularmente em 2022.

Enquanto isso, o Sands se ajustava às exigências de Xi: investiu bilhões em entretenimento e turismo, organizou eventos patrióticos e fortaleceu laços com o governo chinês. Em paralelo, Dumont se tornou uma figura-chave entre os bastidores do basquete e da diplomacia.

“Quando explicamos o contexto sobre o uso da NBA para transformar Macau em um destino turístico, todos ficaram realmente entusiasmados”, disse Dumont.

A volta da NBA à China mostra como interesses econômicos, diplomacia e entretenimento podem se entrelaçar e como o basquete, em meio a tudo isso, se tornou peça de um grande jogo geopolítico.

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