Delegados discutem estratégias nacionais contra manipulação de resultados no esporte
Encontro em Brasília reúne 54 representantes das Polícias Civil e Federal para alinhar investigações e reforçar cooperação internacional
O segundo dia do I Encontro Técnico Nacional sobre Combate à Manipulação de Resultados Esportivos foi marcado por debates fechados a um público restrito: delegados das Polícias Civis e Federal de todo o país. Durante as apresentações, foram expostas operações reais e discutidas metodologias de investigação para enfrentar um crime que ameaça a integridade do esporte brasileiro.
Segundo o secretário Nacional de Apostas Esportivas e de Desenvolvimento Econômico do Esporte, Giovanni Rocco Neto, a capacitação dos 54 delegados (27 da Polícia Civil e 27 da Polícia Federal) é essencial para padronizar procedimentos. “Esse crime só vai poder ser combatido com informação, com articulação de todas as polícias, seja ela federal ou civil”, afirmou.
A delegada Maria Alice Barros Martins Amorim, de Mato Grosso, reforçou a importância prática do encontro. Para ela, ter acesso a técnicas específicas de apuração fortalece o trabalho dos investigadores que atuam na ponta, muitas vezes diante de casos complexos e com pouca referência de conduta.
Especialistas lembraram que a manipulação de resultados não se restringe a grandes competições. Jogos de menor expressão, com salários baixos e estruturas frágeis, se tornam alvos preferenciais de fraudadores, já que as casas de apostas pagam valores semelhantes, independentemente da liga ou divisão.
No período da tarde, o encontro trouxe perspectivas do setor privado e da cooperação internacional. O Diretor de Integridade da Sportradar na América Latina, Felippe Marchetti, detalhou mecanismos de monitoramento de competições. O acordo firmado entre a empresa e o Ministério do Esporte prevê o intercâmbio de informações e treinamentos técnicos para reforçar a integridade esportiva no país.
Já Tarsila Klein Schorr, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), destacou que a corrupção no esporte é hoje um fenômeno global e transnacional. De acordo com mapeamento da ONU, apenas 49 países criminalizam manipulação de competições esportivas em 2025, sendo seis nas Américas — entre eles, o Brasil.
Com a troca de experiências entre operações nacionais e padrões internacionais, o encontro busca preparar as forças de segurança para identificar, investigar e reprimir fraudes em diferentes modalidades e contextos competitivos. O evento segue até quarta-feira (1/10), com foco em padronização de técnicas, fortalecimento da cooperação interestadual e aprimoramento de ferramentas de monitoramento.
A questão agora é: as medidas em discussão serão suficientes para conter o avanço da manipulação em um mercado de apostas em plena expansão?
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