Futebol equatoriano enfrenta onda de violência ligada a apostas e narcotráfico
O futebol no Equador se tornou um esporte de alto risco, marcado por assassinatos e ameaças ligadas à manipulação de resultados. Em menos de um mês, três jogadores profissionais foram mortos, refletindo a crescente presença do crime organizado no esporte.
Na semana passada, o meio-campista Jonathan González, de 31 anos, foi morto em sua residência na região de Esmeraldas, na fronteira com a Colômbia. Homens em motocicletas atiraram contra ele após se recusar a manipular uma partida. González atuava pelo clube 22 de Julio, da segunda divisão equatoriana.
Segundo relatos, nove dias antes do homicídio, organizações criminosas vinculadas a apostas online haviam exigido que González perdesse uma partida, que terminou empatada. O jogador já havia sofrido um atentado anterior e sua mãe recebeu ameaças telefônicas.
O fenômeno não é isolado. Nove dias antes, os jogadores Maicol Valencia e Leandro Yépez, do clube Exapromo Costa, foram assassinados em Manta por homens armados em um hotel. A polícia mantém sigilo sobre as investigações.
Relatórios da ONU e da liga equatoriana alertam para o uso do futebol como instrumento de lavagem de dinheiro e movimentação de apostas ilícitas, com até US$ 1,7 trilhão (R$ 9 trilhões) movimentados anualmente por máfias globais. Equipes da segunda divisão são alvo frequente devido aos baixos salários de seus atletas, tornando-os mais vulneráveis à coação.
Carlos Tenorio, ex-jogador e presidente do sindicato local, critica a dependência de clubes de patrocínios de empresas de apostas:
— Não podemos conceber que as casas de apostas sejam a principal linha de patrocínio de um clube.
Um relatório preliminar da liga identificou manipulações em pelo menos cinco partidas da segunda divisão em 2025. Vídeos de 2024 mostram jogadores sob ameaça de armas para perder jogos.
Em meio à violência, dirigentes e atletas adotam medidas de precaução. O presidente do 22 de Julio atua virtualmente e na clandestinidade, e o atacante Enner Valencia, maior artilheiro da seleção equatoriana, declarou temer retornar a clubes locais, citando risco à segurança de sua família.
Especialistas alertam que, enquanto não houver maior controle sobre apostas ilegais, o futebol equatoriano seguirá sendo um alvo estratégico do narcotráfico.
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